Neste Dia Mundial da Água, 22 de março, o Instituto Agronômico ( IAC-Apta ), realiza o “1º Encontro sobre Água na Agricultura”. O objetivo é divulgar informações que possam contribuir para a desmistificação da ideia de que a atividade agrícola é uma vilã no uso dos recursos hídricos. Embora seja grande usuária de água, dados científicos mostram que 90% da água usada na irrigação retorna ao ambiente por meio da transpiração das plantas.
Outra ideia equivocada que precisa ser corrigida está na crença do agricultor: ele acredita que quanto mais água usar na irrigação melhor será o desempenho da sua lavoura. E não é assim. Para alcançar eficiência e sustentabilidade na irrigação, é preciso adotar monitoramento, gestão e manejo adequado da água. O excesso, além de não favorecer a planta, ainda pode causar erosão e compactação do solo.
“O processo de crescimento e desenvolvimento das plantas com elevadas produção e produtividade envolve grande volume de água, mas a planta transpira cerca de 90% desse volume consumido, que retorna para a atmosfera na forma de vapor”, explica Regina Célia de Matos Pires, pesquisadora e vice-diretora do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
A cientista ressalta que a água é um insumo na agricultura irrigada, assim como são os nutrientes em outras práticas culturais. As plantas precisam do aporte de água por chuvas ou por irrigação. O que deve ser feito é o uso adequado do recurso hídrico envolvido nesse processo, via métodos de irrigação que promovam a eficiência e estejam devidamente ajustados.
Para os organizadores do evento e pesquisadores do IAC, Jane Maria Carvalho Silveira e Afonso Peche Filho, o planejamento e o uso adequado da água são fundamentais para o desenvolvimento ambiental, econômico e social da agricultura brasileira.
A dinâmica da água em solo, planta e atmosfera precisa ser compreendida e requer monitoramento. O clima é o mais variável desses fatores e, por isso, monitorar seus dados traz embasamento para as ações nas lavouras. Por exemplo: diante do dado de que não haverá chuva, o agricultor sabe que precisa irrigar. Se os dados mostram alto índice de transpiração das plantas, é sinal de necessidade de repor a água. O problema é que esses equipamentos têm complexidade e custos que restringem seu uso em áreas de produção.
Para colaborar, o IAC vem apresentando as demandas hídricas de diversas culturas, com indicadores de eficiência do uso da água. Os estudos nessa área começaram antes da década de 1950 em diversas culturas. Desde então, há várias pesquisas envolvendo as diversas fases da planta e como essas interferem no consumo de água, os principais períodos críticos de déficit hídrico nas diferentes espécies e, mais recentemente, a adoção de imagens aéreas para auxiliar nesse entendimento.
“Temos técnicas de manejo que mostram resposta da cultura com aplicação de 80% da água, ou seja, com uma economia de 20% de água e alta produtividade, mostrando quais materiais respondem melhor à irrigação deficitária”, diz Jane.
Outra possibilidade está nas cultivares desenvolvidas pelo IAC com maior tolerância ao estresse hídrico, como ocorre com algumas de feijão e de cana-de-açúcar, por exemplo.
Esse conhecimento, associado a informações como a declividade do terreno e a hidrografia da região, serve de embasamento para fazer uma eficiente gestão dos recursos hídricos, de modo a manter a sustentabilidade e a produtividade esperada em cada cultura.
“A sustentabilidade da agricultura passa pela irrigação eficiente, que viabiliza a segurança alimentar. Podemos ter a segurança hídrica a partir da adoção dos manejos comprovadamente eficientes em nossos estudos científicos”, afirma.
Recomendações para a irrigação sustentável
A recomendação do IAC é adotar estratégias de manejo da água como a irrigação com déficit hídrico, isto é, oferecer à planta quantidade de água inferior à demanda total. Outra orientação está no controle de lâminas com monitoramento via sensor de solo ou de planta, ou ainda com estação meteorológica associadas às técnicas de conservação de solo como curvas de nível e plantio direto. Essas estratégias fornecem ao agricultor informações que o orientam sobre qual a quantidade de água a ser usada na irrigação de modo eficiente e sustentável.
Segundo Regina Pires, a água em excesso não favorece o bom desenvolvimento da cultura. Quando o solo está sob inundação, seus espaços porosos ficam preenchidos por água e com isso não há oxigenação. E as plantas necessitam de oxigênio no solo para que ocorra boa absorção de água através do sistema radicular. “Sem oxigênio no solo, a planta não absorve a água, mesmo havendo disponibilidade hídrica”, destaca a vice-diretora do IAC.
“Quando aumenta a quantidade de água aplicada na irrigação sem critérios, o aproveitamento em benefício da produtividade da lavoura segue até certo ponto. Mas os ganhos estão diretamente ligados ao monitoramento da água na planta e no solo, à gestão da água e do seu manejo”, comenta Jane.
Administração do uso da água é ferramenta de sustentabilidade e produtividade
A gestão do uso da água na atividade agrícola será abordada pelo pesquisador do IAC, Afonso Peche Filho. Para ele, em uma área agrícola, a água se apresenta em diferentes aspectos de acordo com a ocupação e o uso da terra. “A propriedade está inserida na dinâmica do ciclo hidrológico e suas áreas vão apresentando características ecohidrológicas ao longo do tempo. Esse “complexo hidrológico” se manifesta com diferentes comportamentos de acordo com a época do ano”, comenta.
Segundo o pesquisador, a organização espacial das propriedades considera o chamado “cenário de ocupação”, que são as áreas produtivas, protegidas, construídas, lindeiras, úmidas e áreas de locomoção. Há também os “cenários estacionais”, referentes à primavera, verão, outono e inverno, e os “cenários de usos”, que envolvem tipologia de águas, disponibilidade, demanda e escassez hídrica.
O objetivo do diagnóstico é identificar elementos de gestão. Elementos relacionados com a administração, gerenciamento e operação de qualquer tipo de água.
“O diagnóstico vai levantar um conjunto de atividades em que precisam ser consideradas a ocorrência e a caracterização de diversas situações hidrológicas. “A íntima relação da água com o espaço ocupado e o produto dessas relações determinam o modelo de gestão a ser adotado na propriedade”, afirma.
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