Os juros futuros voltaram a fechar em forte alta, com os longos abrindo 30 pontos-base, refletindo a escalada das preocupações com o ambiente externo e fiscal, que também levaram o dólar para perto de R$ 5,30. A perspectiva sobre os juros nos Estados Unidos ficou mais sombria após discursos de dirigentes do Federal Reserve, incluindo o presidente Jerome Powell.
No Brasil, a expectativa para o cenário fiscal piorou após a leitura detalhada do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que foi além da mudança da meta fiscal para 2025, colocando em xeque a credibilidade do arcabouço fiscal. Na seara geopolítica, o Irã prometeu agir de forma severa a eventuais ataques de Israel.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,335%, de 10,141% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2026 terminou com taxa de 10,73%, de 10,40% ontem. O DI para janeiro de 2027 rompeu a marca de 11%, não vista desde 1º/11/2023, com taxa de 11,13% no fechamento, de 10,76% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2029 saltou 10166%, de 11,31% ontem.
O expressivo volume de contratos negociados, associado ao nível de abertura das taxas, sugere que o mercado seguiu com movimentos de “stop loss” (zeragem) de posições vendidas, diante do aumento da aversão ao risco externo e fiscal.
O mercado continuou sob o jugo da tríade de fatores que vêm penalizando os ativos desde a semana passada: incerteza sobre os juros nos EUA, conflitos no Oriente Médio e cena fiscal brasileira. “O ‘higher for longer’ nos EUA é o principal, seguido pela questão geopolítica. A mudança da meta fiscal foi a cereja do bolo”, resume o economista da Guide Investimentos Victor Beyruti.
As taxas dos Treasuries voltaram a ter alta firme, com a da T-Note de 2 anos atingindo 5,00% nas máximas do dia e a da T-Note de 10 anos, 4,69%, na sequência da fala de Powell em evento no Fórum de Washington sobre a Economia Canadense. Ele admitiu que os dados de inflação indicam que vai demorar mais até que a autoridade monetária tenha a confiança necessária para cortar juros.
No que diz respeito ao Oriente Médio, o foco é, ao menos num primeiro momento, o impacto no mercado de petróleo, na medida em que a defasagem dos preços da gasolina já chega a 20% em relação às cotações internacionais. Caso Israel promova uma contraofensiva aos ataques do último sábado e o Irã responda, o conflito pode escalar e levar a uma nova disparada da commodity.
Num cenário externo já delicado, os ruídos fiscais deixam o mercado ainda mais sensível a qualquer tipo de risco. O PLDO não só alterou a meta de 2025 de superávit de 0,5% do PIB para resultado zero, como também mudou o objetivos para 2026 (de superávit de 1% para 0,25%), com bandas de variação de 0,25 ponto.
De Washington, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não vê razão para ruído em decorrência da mudança da meta para os próximos anos, argumentando que a trajetória “está completamente em linha com o que se espera no médio prazo de estabilidade da dívida”. Admitiu que é necessário controlar as despesas e que o déficit primário não vai cair ao nível que o governo gostaria, na medida em que várias medidas têm de ser negociadas e, nesse processo, a Fazenda acaba ficando “desfalcada de algum pedaço que era importante para o fechamento das contas”.
Tal contexto tem provocado ampla reprecificação nos ativos domésticos, com a curva a termo apontando cada vez mais chances de Selic terminal acima de 10%, muito como efeito das zeragens de posição vendida. Beyturi, da Guide, afirma que é grande o risco de o Copom desacelerar o ritmo de corte em junho para 25 pontos, uma vez que já alterou o forward guidance de corte de 0,5 ponto apenas para a “próxima reunião” no último comunicado justamente em função das incertezas também do quadro externo.
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