O Plenário da Câmara dos Deputados recebeu, nesta segunda-feira (25), diversas pessoas com síndrome de Down, que defenderam o fim do preconceito e a garantia de direitos. Elas participaram da sessão de homenagem ao Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado dia 21 de março.
A síndrome de Down não é uma doença e sim uma condição genética causada pela triplicação do 21º cromossomo - por isso, ela também é conhecida como Trissomia 21 ou T21. Entre as características físicas associadas à síndrome estão olhos amendoados, maior propensão ao desenvolvimento de algumas doenças e a falta de tônus muscular.
A deputada Erika Kokay (PT-DF), que pediu a sessão, destacou que o tema da campanha deste ano - “Chega de estereótipos, abaixo o capacitismo” - reflete a importância de se desafiarem os estigmas que cercam as pessoas com Síndrome de Down. “Não são os cromossomos que determinam as potencialidades das pessoas”, disse.
Na avaliação da parlamentar, é preciso dar oportunidades para essas pessoas, colocar a educação inclusiva no Orçamento e assegurar as cotas para pessoas com deficiência no mercado de trabalho, já previstas em lei.
“Assegurar as cotas e assegurar a qualificação no mercado de trabalho também, porque a maioria das pessoas com deficiência que estão no mercado de trabalho ganha até dois salários mínimos”, observou.
“Não precisamos rotular as pessoas, precisamos acreditar que elas são capazes, que nós precisamos oportunizar para que elas cresçam e se desenvolvam”, reiterou Cleo Bhon, presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD). Ela lembrou, por exemplo, que o Brasil foi tricampeão da Copa do Mundo de futsal down, realizada este ano na Turquia. Segundo ela, são mais de 40 times de pessoas com Down no Brasil.
Ações do poder público
A escritora Liane Colares, que tem Down e é diretora de Relações Institucionais da FBASD, pediu atenção dos parlamentares às pessoas com deficiência: “Peço ainda que esta Casa tenha sempre um olhar na defesa das pessoas com deficiência e fortaleça as associações que cuidam dessas atividades”, disse.
O diretor de Políticas de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva do Ministério da Educação, Alexandre Mapurunga, que tem autismo, informou que será lançada em maio a Rede de Autodefensoria em Favor da Inclusão e contra o Capacitismo, que passará a ser uma política pública do ministério. Essa rede estimula o protagonismo das pessoas com Down na defesa dos seus direitos.
“Autodefensoria é um movimento mundial que teve início na Suécia, nos anos 60, e seu objetivo é contribuir para o protagonismo dos jovens e pessoas que ocuparão cada vez mais seu lugar de fala na defesa dos seus direitos, entre os quais os direitos à educação inclusiva, participação política e social e cidadania”, explicou a fotógrafa e autodefensora Jéssica Figueiredo. Ela salientou a importância dos profissionais que trabalham nas escolas para combater os estereótipos em torno das pessoas com deficiência.
Presidente da Associação DFDown, Silma Sousa frisou que, na área da educação, um dos problemas enfrentados é a falta de monitores de apoio às pessoas com deficiência nas escolas públicas. Já na área da saúde, segundo ela, umas das dificuldades é a falta de prioridade no atendimento para as pessoas com Down.
Apoio da família
A sessão contou ainda com a participação de Willian Vasconcelos, primeira pessoa com Síndrome de Down graduada em Direito no Brasil, que relatou a experiência.
“A faculdade, para mim, foi um divisor de águas, me abriu muitas portas e proporcionou grandes conquistas. Eu tive apoio dos professores, coordenadores, colegas e a área da acessibilidades, que faz um trabalho mais importante para a inclusão”, contou.
Também participaram da sessão os influenciadores digitais com Down Jefferson Barcelos, conhecido como Pitoco, e Maria Clara Machado, que também é atriz. Ela ressaltou que as pessoas com Down enfrentam muitos desafios, como o pensamento de que são incapazes e a falta de oportunidades, daí a importância do apoio familiar.
“Minha família acreditou na minha capacidade, por isso me deu muitas oportunidades, me incentivando sempre a vencer os desafios, e isso fez muita diferença na minha vida: terminei o ensino médio, estou trabalhando, entrei para uma faculdade e fiz a minha primeira participação em um filme”, disse.
Formar a própria família
Atriz e influenciadora digital, Samanta Quadrado contou que há 11 anos se relaciona com o ator e atleta Breno Viola. Ambos têm Down e há dois anos moram juntos, sozinhos. Breno também participou da sessão e destacou a necessidade de as pessoas com deficiência trabalharem e terem a oportunidade de constituírem suas próprias famílias.
Para ele, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de 2015, tem que sair do papel. “Temos que respeitar a lei, porque a lei às vezes é só no papel, e a sociedade não exige a lei da inclusão. Eu fico muito triste de o nosso País não exigir demais das nossas leis. Temos muito que caminhar”, avaliou.
Isabel da Silva, idosa, mãe e avó, é personagem do livro "Minha mãe tem síndrome de Down - e daí?" e contou, durante a sessão solene, que faz tapetes e bordados para vender, além de cuidar da neta e cozinhar.
Cuidar de quem cuida
Presidente da Associação Juliano Varela, do Mato Grosso do Sul, Maria Lúcia Fernandes destacou que é preciso cuidar das pessoas que cuidam das pessoas com deficiência.
Ela afirmou ainda que a entidade trabalha para que os alunos possam mostrar as habilidades à sociedade, incluindo uma cozinha inclusiva, onde já se formaram duas turmas de chefs, e a banda Down Rítmica, única banda formada com componentes com síndrome de Down do País, que se apresentou na sessão.
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