O Dia Nacional de Educação de Surdos, comemorado nesta terça-feira, 23/4, celebra a inclusão de estudantes com deficiência auditiva, surdos e surdo-cegos na educação básica. Apesar dos muitos desafios desta jornada, iniciativas do poder público, setor privado e terceiro setor buscam diminuir barreiras – atitudinais, comunicacionais, físicas, políticas, de mobilidade, sociais – e expandir a acessibilidade.
Uma dessas iniciativas é a Central de Interpretação de Libras (CIL), vinculada ao Departamento de Políticas para Pessoas com Deficiência, da Secretaria da Mulher, Pessoa com Deficiência e Igualdade Racial. Na segunda reportagem da série “Caminhos da Inclusão”, será retratado o dia a dia da Central, com as conquistas e os desafios enfrentados pelos profissionais na luta pelo acesso e inclusão da comunidade surda. Nesta quarta-feira, dia 24/4, Dia Nacional de Libras, a terceira e última reportagem vai abordar as experiências marcantes dos intérpretes.
No primeiro trimestre deste ano, a CIL fez 207 atendimentos. Em 2023, foram 851. São três tipos de atendimento da Central: presencial, remoto e in loco. No presencial, o usuário se desloca até o Departamento. Caso seja necessário, os intérpretes acionam os técnicos – psicólogas e assistente sociais. No remoto, o atendimento é feito por meio de videochamada do local onde o usuário precisa de interpretação, seja em equipamentos públicos, consultórios médicos ou agências bancárias. O mesmo acontece na modalidade in loco, com a diferença que o intérprete se desloca até o usuário, mediante agendamento prévio.
Nesta terça-feira, 23/4, por exemplo, a equipe atendeu o usuário Nicolas Doneisa da Silva, que é surdo, e sua mãe ouvinte Giovane Antônia Cardoso da Silva, no CRAS Antunes (foto). No dia anterior, a atuação foi em uma empresa que emprega deficientes auditivos e surdos.
Ao ser questionado sobre os avanços da área, o intérprete Domingos Nunes Carvalho Filho, há quase 5 anos na CIL, fala sobre o aumento no número de profissionais contratados e o horário de atendimento. “Atualmente, estamos em três intérpretes aqui na CIL, além do pessoal na Saúde, com jornadas diárias de seis horas. Com isso, conseguimos expandir o trabalho e atender mais usuários.” A atuação não se restringe somente ao expediente, já que atendem à noite e nos fins de semana, como um usuário que se envolveu em um acidente de trânsito e precisava do intérprete durante os primeiros-socorros. “Um dia, eles foram socorrer uma pessoa que atentava contra a própria vida e conseguiram evitar”, conta Sueli Aparecida Facundim de Melo, responsável pelo Departamento de Políticas para Pessoas com Deficiência.
Essa dedicação, assim como o entrosamento, reflete na qualidade do atendimento da CIL. “A equipe tem de estar unida, falar a mesma língua. Até porque o atendimento é feito conforme a demanda do dia, ou seja, todos os intérpretes atendem todos os usuários. Também temos esse intercâmbio com o pessoal da Saúde, com troca de informações, consulta a laudos, etc.”, afirma o intérprete Alfredo Ferreira de Freitas Neto.
O trabalho em equipe também se expande para os outros departamentos da Secretaria da Mulher, PcD e Igualdade Racial, já que há mulheres deficientes auditivas vítimas de violência doméstica e familiar. “Já é difícil ser mulher, imagina com a questão da comunicação. Então, enfrentamos barreiras e rótulos diariamente, mas vamos construindo, dia após dia, essa igualdade de oportunidade, essa igualdade de fala”, afirma a intérprete Eliani Fernandes Briz. Ela explica que o atendimento começa com uma conversa para entender a demanda do usuário. A partir disso, são feitos os encaminhamentos e agendamentos necessários e acionadas outras equipes, da Secretaria da Mulher, PcD e Igualdade Racial, e demais secretarias municipais.
Como a Secretaria de Saúde, que mantém equipe própria com duas intérpretes para auxiliar os pacientes deficientes auditivos, surdos e surdo-cegos em agendamentos, consultas médicas e procedimentos clínicos e hospitalares realizados na rede pública de saúde. “Rio Preto é pioneira na questão da acessibilidade. Na saúde, o trabalho é essencial, pois chegam fragilizados, debilitados e, por causa da dificuldade em se comunicar – é como se fossem estrangeiros dentro do próprio país. Em caso de emergência, mal súbito ou algo relativo, se não houver comunicação naquele primeiro momento, pode custar a vida daquela pessoa”, conta a intérprete Emily Nycole Ribeiro de Oliveira, que atua na Saúde com a colega Magali Aparecida de Souza.
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