O Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais é comemorado nesta quarta-feira, 24/4. Em 2002, por meio da Lei Federal nº 10.436, a Libras foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão. Por meio dela, deficientes auditivos, surdos e surdo-cegos se comunicam com a comunidade ouvinte. Com estrutura e gramática próprias, é uma língua visuoespacial, formada por gestos, expressões faciais e corporais.
É por meio da Libras que os intérpretes da Central de Intepretação de Libras (CIL) fazem os atendimentos diários, nas modalidades presencial, remota e externa. A Central está vinculada ao Departamento de Políticas para Pessoas com Deficiência, da Secretaria da Mulher, Pessoa com Deficiência e Igualdade Racial.
Nesta última das três reportagens da série “Caminhos da Inclusão”, o espaço é para que os intérpretes compartilhem momentos marcantes nessa jornada de promover a comunicação, caminho cheio de desafios, mas também de conquistas.
O intérprete Alfredo Ferreira de Freitas Neto relembrou um episódio do começo da carreira. “Quando eu comecei, tinha feito o curso básico de Libras e não sabia muito. Uma amiga me disse que estavam precisando de intérprete em uma escola. Cheguei lá e tinha três surdos. Ficaram muito empolgados com minha chegada, queriam falar tudo ao mesmo tempo, pois ninguém conversava com eles. Um dos surdos chegava todo com marcas de unha, no pescoço, pernas. A mãe batia nele, porque não conseguia se comunicar, não entendia o filho, muito triste. Eu ia pro banheiro chorar, porque não conseguia lidar com aquilo. No outro dia, eu levantava e não queria ir, mas eu ia. Chegava em casa com dor de cabeça. Esse foi um momento que me marcou demais, porque... (nesse momento, Alfredo não consegue conter o choro).” Depois, o intérprete complementa: “É um sofrimento gostoso (risos), um choro de alegria, pois é muito gratificante”.]
O colega e também intérprete Domingos Nunes Carvalho Filho complementa que esse rapaz concluiu o ensino médio e hoje trabalha e vive com a namorada em outra cidade. Alfredo e Domingos, em outra ocasião, socorreram um surdo que estava em cima de uma ponte, ameaçando pular. “Nesse dia, eu levantei com o R. na cabeça. Tentamos ligar e não atendia. Ele estava na ponte. Fomos ao local e começamos a conversar. Evitamos o pior”, conta Alfredo.
Outra emergência é lembrada por Domingos. “Um surdo se envolveu em um acidente de madrugada. Fomos acionados pela equipe da UPA Norte, porque não conseguiam contato com a família. Quando chegamos, ele estava todo enfaixado, chorando e tremendo. Mesmo assim, mudou rapidamente a feição, ficou feliz de ter alguém que possibilitasse a comunicação. Isso marcou bastante.”
Domingos também recorda, com carinho, da ação da CIL no programa Emprego Apoiado e, especificamente, nos Balcões de Empregabilidade para Pessoas com Deficiência. “É muito gratificante acompanhá-los nesse processo, desde a organização de documentos, admissão, entrevista. No final, quando conseguem a vaga, agradecem muito, por termos facilitado essa jornada.”
Não são raras as ocasiões em que os intérpretes fazem as vezes de familiares dos usuários, seja porque a família não se envolve no processo ou está distante ou impossibilitada de participar. A intérprete Emily Nycole Ribeiro de Oliveira, que atua na Secretaria de Saúde, lembra com carinho dos quatro partos em que atuou, “dois meninos e duas meninas, lembro das datas, dos pesos”. Um deles, porém, marcou a profissional em especial. “Foi o parto do Lucas, em janeiro do ano passado, bastante noticiado à época. A mãe (Iris) foi para uma consulta, mas já estava com dilatação. Então, fomos direto para Santa Casa. Foi um parto normal, e ela estava sem acompanhante, porque o marido trabalhava em outra cidade. Eu estava de intérprete, mas também de acompanhante, como amiga. Em um determinado momento, estava fazendo a interpretação somente com uma mão, pois segurava a mão dela com a outra.” A mãe, Iris Stort, mora atualmente em outra cidade, mas mantém contato com Emily e sempre envia fotos e vídeos do Lucas.
Para além dos momentos marcantes, a intérprete Eliani Fernandes Briz chama a atenção para os pequenos relatos cotidianos. “Uma vez, eu acompanhei um usuário surdo-cego no banco, para um atendimento de recebimento de benefício. Parece simples, mas ele estava com dificuldade, precisava trocar a senha e estava desesperado pois, se não recebesse, não conseguiria pagar a conta de energia elétrica. Com a interpretação, ele conseguiu resolver a pendência. É simples para a gente que não encontra barreira na comunicação, mas não para eles. Então, fico muito feliz em poder ajudar, de me sentir útil todos os dias, nessas situações rotineiras.”
A CIL funciona na Secretaria da Mulher, PcD e Igualdade Racial, à Rua Bernardino de Campos, 4075, Vila Redentora. Mais informações pelo telefone (17) 3222-2041.
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